Dê uma olhada na foto da tia acima. Roupas, papéis, sacolas, objetos e entulhos jogados pela sala que parece um pouco com um depósito ou até com o popular quarto da bagunça. Mal organizada, não? Se olharmos pelo ponto de vista de que esse é todo o espaço físico de onde ela vive, não.
O fotógrafo alemão Michael Wolf realizou diversas séries temáticas de fotografia em Hong Kong. Em uma delas, no ano de 2006, documentou como são internamente os pequeníssimos apartamentos do Shek Kip Mei Estate, o primeiro complexo habitacional popular de Hong Kong.
O complexo foi construído em 1953 pelos britânicos para abrigar um enorme número de imigrantes oriundos da China. O êxodo à Hong Kong iniciou logo após o final da segunda guerra mundial. Milhares de imigrantes ilegais viviam sob condições sub-humanas em um gueto no distrito de Sham Shui Po. O gueto, no entanto, foi alvo de um gigantesco incêndio que deixou mais de 50 mil pessoas desabrigadas. Para alojar o povo, os colonizadores britânicos construíram com a ajuda da ONU este imenso complexo. Na época, o plano original era alojar um habitante a cada dois metros quadrados e uma criança a cada um. No entanto, devido à escassez de residências, muitas vezes os cubículos eram muito mais apertados.
Hoje, o conjunto é outro. O original foi totalmente destruído, com exceção do bloco 41. O Shek Kip Mei Estate ainda existe, mas é um pouco menos caótico que o original. O complexo é composto por 7.363 cubículos com dimensões entre 11 e 55 metros quadrados de área útil, divididos em 26 blocos.
Para realizar a série, Wolf teve a ajuda de uma assistente social que o levou porta-a-porta para fazer as fotos. Durante 4 dias, Wolf visitou centenas de apartamentos e registrou suas diferenças. A série, intitulada, 100×100 em referência aos 100 pés quadrados (30 metros quadrados no sistema métrico) dos apartamentos registrados, mostrou que o limitado espaço não é obstáculo para os acumuladores de tralhas. Por outro lado, outros apartamentos aparecem quase que vazios, com o mínimo de mobília possível.
E o mais curioso vem agora. Apesar das aparentes péssimas condições, a maioria dos moradores falaram ao fotógrafo que estão “muito bem, obrigado” morando em seus cubículos. Muitas das famílias estão vivendo no local há mais de vinte anos.
O pouco espaço interno em apartamentos é algo natural na ilha. De acordo com o jornal South China Morning Post, cerca de 280 mil pessoas moram em apartamentos divididos. Um estudo constatou que 42% dos 4.045 apartamentos pesquisados são subdivididos em até dez cômodos. A média do estudo conclui que é possível que 280 mil pessoas morem em 16 mil apartamentos. Ou seja, 17,5 pessoas por apartamento. Bizarro. A justificativa para tamanha densidade populacional nos apartamentos é o abusivo preço dos aluguéis.
Veja abaixo algumas fotos da série. No total, são muitas e você pode ver todas elas aqui no site oficial do fotógrafo. Divirta-se e tome conhecimento de que existe lugares mais apertados para se viver do que sua kitinete.
Fotos: Michael Wolf
Fonte La Parola